Brasília, 19 de março de 2025.

A exemplo do capacete Elmo, desenvolvido durante a pandemia por profissionais de diversas formações liderados por engenheiros cearenses, a engenharia brasileira buscou atuar de forma reativa e proativa durante a covid-19, cuja situação de crise sanitária foi considerada de calamidade pública no país em 20 de março de 2020. A valorização da ciência e a inovação foram as marca da atuação do Sistema durante o período da pandemia.

Na manutenção e no desenvolvimento de atividades necessárias ao cotidiano do então chamado “novo normal”, mesmo sem uma diretriz nacional para orientar medidas essenciais como os distanciamentos, “lockdowns” e isolamentos sociais, a engenharia brasileira experimentou desafios logísticos, operacionais e humanos, com a perda de muitos profissionais. Mas também demonstrou sua força, superando as adversidades ao longo de cada dia, inclusive na gestão dos Creas e do Confea.
 

Foram dias de luto. E de muitas transformações. Com o país oficialmente em calamidade pública, nove dias após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia mundial. No entanto, ainda titubeante em operacionalizar medidas profiláticas que poderiam ter evitado muitas mortes. Como de resto, em praticamente todo o período mais grave da doença, até meados de 2022. 

À frente do Crea-SP à época, o atual presidente do Confea, eng. Vinicius Marchese, lembra as dificuldades enfrentadas pelos regionais para adaptar-se às mudanças que se faziam necessárias para preservar as vidas dos profissionais e funcionários e para buscar manter as atividades relacionadas à fiscalização do exercício profissional. “Já em maio de 2021, registrávamos quase metade das operações anotadas em todo o ano anterior. Cada Crea utilizou estratégias próprias, mas no nosso caso fizemos apostamos em tecnologia da informação e nas forças-tarefas”, descreve, apontando ainda a necessidade de adaptar o regional para o trabalho remoto diante dos protocolos sanitários. Nesse período, uma ação do Regional paulista acabou sendo encampada pelo Confea, um acordo de cooperação técnica com o Mercado Livre para remover anúncios de serviços irregulares. “São ajustes culturais que já precisavam ter sido feitos e que hoje estão mais sedimentados na rotina dos regionais”, acrescenta.

Já o presidente em exercício do Confea no primeiro ano da pandemia, eng. Osmar Barros Júnior, aponta que “as reuniões virtuais mostraram que seria possível fazer as nossas atividades, conversando com pessoas remotamente, como até hoje fazemos. E também em relação às fiscalizações inteligentes, que tornaram possíveis a atuação dos Creas”, pondera.
 

Confea: perdas e ganhos
As rotinas dos regionais também foram modificadas, e a experiência do Conselho Federal pode servir como exemplo dos desafios enfrentados naquele período.  “Executamos as nossas rotinas, não paramos”, comenta a analista Adriana Andrade, da Gerência de Administração de Pessoas (GAP), chamando atenção para a portaria 105/2020, que liberou os funcionários da casa para o trabalho remoto. “Tudo graças ao VPN, sistema de acesso remoto”, conta, com o apoio do atual gerente, Rafael Xavier.

“Ainda era algo muito novo para todos. Algumas ferramentas que hoje parecem tão triviais, consolidadas, como uma videochamada para a realização de reuniões e plenárias, eram novidade naquele tempo”, pondera a então gerente, Ana Fabíola Torres. Ela reforça que o principal foi realmente liberar o acesso para todos. “Mas o pulo do gato foi termos já o uso do SEI (Sistema Eletrônico de Informações) consolidado. Seria totalmente diferente sem isso”, afirma.

Mas nenhum dos avanços seria suficiente para enfrentar as perdas das vidas dos colegas e dos profissionais que se acumulavam ao longo desse período. No Confea, dois funcionários foram vítimas da Covid-19: Francisco das Chagas Gomes, em 27 de julho de 2020, e Roldão Lima Júnior, em 27 de março de 2021. Em todo o Sistema, as notícias de vítimas se multiplicavam. “Infelizmente, tivemos muitas perdas, mas não foi diferenciado em relação a outras profissões. Lamento profundamente a perda do funcionário Francisco, durante essa minha gestão, mas todas as medidas adotadas foram baseadas nas decisões judiciais e orientações dos órgãos de Saúde", descreve o presidente à época e atual conselheiro federal.

“Em 24 horas úteis, saímos de 200 pessoas presenciais para zero. Todos foram para o home office”, descreve Ana Fabíola Torres, à exceção de alguns funcionários terceirizados, que se revezaram ao longo da pandemia. “Alguns chegando até mesmo a precisar de um salvo conduto para atravessar as barreiras sanitárias nas estradas”, lembra o gerente de Infraestrutura em exercício, Paulo Prado. 
Entre retornos parciais, procedimentos, plenárias virtuais, videochamadas, grupos de risco, decisões judiciais e ad referenda, a última portaria do então presidente do Conselho, eng. Joel Krüger, de 13 de dezembro de 2022, determinou o retorno de todos os funcionários a partir do dia seguinte.

Engenharia no cotidiano da pandemia
A Engenharia, a Agronomia e as Geociências do país precisaram adaptar-se à pandemia. “O Brasil necessitava de todos nós, e nós soubemos dar a resposta, preservando e mantendo a continuidade das atividades essenciais para o país. Da manutenção do gramado do Maracanã, à oportuna questão da manutenção de ar condicionado, na construção de hospitais de campanha e até mesmo de um túnel de desinfecção e toda a atuação de várias engenharias, como a engenharia clínica. Internamente, foi um momento de muitos avanços, conduzidos pelo presidente Joel Krüger e pelo presidente em exercício Osmar Barros Júnior, como a realização das primeiras eleições pela internet, em 2021, ou ainda a mobilização em torno do marco legal da distribuição de energia, entre outros momentos. Os registros de ART demonstravam a força da nossa área”, comenta Vinicius Marchese. 

Com o tema “A Pandemia: aprendizados e desafios para a Engenharia, a Agronomia e as Geociências”, a Soea Connect reuniu 13 mil participantes por meio de uma plataforma digital, em setembro de 2021. A 77ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea) havia sido suspensa em 2020. A realização de eventos em formato híbrido como o Congresso Brasileiro de Agronomia (CBA), em Florianópolis, em outubro de 2021, representava o início da abertura. Presencialmente, os 600 participantes, ainda usavam máscaras. 
 

Em entrevista em dezembro de 2021 ao Canal Rural, o então presidente do Confea, eng. Joel Krüger, desenhava um cenário otimista para a retomada da economia na pós-pandemia. “Acreditamos que ano que vem a gente possa ter um certo controle do processo inflacionário, ficando em um patamar de 5, 6%, dentro de um nível mais razoável”. E abordava a atuação da engenharia durante a pandemia. “Em 2020, a gente continuou em plena atividade. Claro que houve toda essa dificuldade econômica, mas, se nós olharmos para as nossas atividades, elas continuaram ocorrendo. Em 2021, segundo a CBIC, houve um aumento de 10% na atividade da construção civil”, apontava, fazendo referência ainda ao crescimento do agronegócio, um dos vetores da atuação da engenharia durante a tragédia sanitária.

A atuação presencial dos profissionais no dia a dia das pessoas foi fundamental, na visão de Osmar Barros Júnior. "Não havia como ser de forma remota. Se não fossem esses profissionais que construíram hospitais, fizeram a manutenção de respiradores e de outros equipamentos e mitigaram os principais desafios em diversos setores, como a manutenção elétrica, a segurança hídrica e a segurança alimentar, a crise seria muito maior", reforça o presidente em exercício do Confea no ano de 2020. 

Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea
Agradecimentos às funcionárias Adriana Andrade e Ana Fabíola Torres, da Gerência de Administração de Pessoas do Confea (GAP)